Tenho entrado em discussões homéricas por causa desta pergunta. Creio que a resposta seja sim.
Por este meu posicionamento sou sempre acusado de ser elitista, de desrespeitar a cultura de outras camadas da sociedade, e principalmente, de não ter a consciência de que arte depende de um ponto de vista arbitrário, de que é algo totalmente subjetivo. E vão além, me dizem que não sou gabaritado para falar sobre ou “julgar” se a expressão artística em questão, é boa ou não.
Isso tudo me fez gerar duas questões: Se a arte é unicamente subjetiva, para que serve a crítica então? Ou seja, para que serve pessoas que estudam o comportamento de uma obra de acordo com os elementos que a compõe? Como por exemplo em um filme: A imagem em todos seus aspectos como luz, cor do ambiente, expressão das personagens, aliado ao som ou à ausência dele, tudo isso somado para criar um significado, uma proposta para e expô-la à sociedade. E a segunda seria quanto à importância de um curso de crítica, midialogia, literatura e afins, para uma pessoa poder criticar, discutir sobre, ou ter um argumento de autoridade em relação às artes.
Quanto a primeira questão, meus opositores nestas discussões disseram que a critica serve: 1- para nada, ou seja, apara acentuar egos inflados de quem acha que entende de arte. 2- Para expor a opinião pessoal que quem faz a crítica. Isso contradiz qualquer conceito que eu tenha sobre crítica. Em princípio creio que a crítica é conclusão de uma análise, que busca identificar o direcionamento racional tomado pelo genitor da obra em questão, para assim, acolhermos com mais naturalidade e consciência as sensações e os sentimentos despertados pela obra.
Através dela, quando você se emociona um uma música, conseguimos dizer o porque você se emocionou. Conseguimos detectar por exemplo no caso da música, quando o cara fez uma letra bem trabalhada ou quando existe a uma progressão harmônica tal que acolheu a letra e enfatizou a mensagem da música.
Agora, pegue uma música destes sertanejos universitários, de alguma destas bandas coloridas, do Latino, ou destes grupos de pagode do momento. Tente fazer uma analise em cima deles. O que você conseguirá dizer sobre eles? O que dá para dissertar sobre esses caras é bem pouco, pois eles são rasos, de baixa qualidade tanto musical quanto poética. Indo além disso diria que eles são a descaracterização, ou seja, o empobrecimento do que seria a cultura da música sertaneja raiz, do rock and roll e do samba. Vejo essa galera fazendo sempre a mesma coisa, escrevendo sempre sobre o mesmo assunto e usando sempre os mesmos clichês.
Arte consiste em inovar, fazer aquilo que ninguém estava esperando, de maneira pensada, inteligente e ainda assim atingindo a tal subjetividade tão falada. E quando digo inteligente não estou dizendo que a pessoa tem que ter estudo, ser “bem instruída”. Coisas inteligentes também nascem na simplicidade, com o sertanejo de raiz e a poesia de cordel.
Sobre a segunda pergunta, vamos seguir pela seguinte linha de raciocínio: Se eu possuo capacidade de fazer boa arte, sou apto a dizer se arte é boa ou não e vice versa. Vamos citar nomes de alguns críticos brasileiros bem conhecidos e suas respectivas formações: Luiz Fernando Zanin (cinema) , escreve para o jornal O Estado de São Paulo -formado em filosofia e psicologia, José Ramos Tinhorão (música)- formado em direito e filosofia, Pablo Vilaça e tantos outros. Além disso, no Brasil a maioria dos críticos são jornalistas. O que quero dizer, é que o conhecimento sobre arte que esse pessoal adquiriu veio na raça, na convivência com a arte, e não de uma instituição.
Agora voltando, ou seja, seguindo a recíproca da linha de raciocínio, vamos aos nomes de grandes operários das artes e de suas respectivas formações. Clarice Lispector (formada em direito), Carlos Drummond de Andrade (formado em farmácia) , Jimi Hendrix – ( formado em sexo drogas e rock and roll) Pablo Neruda (formado em pedagogia). Assim, podemos concluir que tanto para analisar quanto para produzir arte as instituições tem uma importância ínfima no resultado final.
Obviamente nem tudo que gostamos é bom e de qualidade e não devemos parar de nos relacionar com o que gostamos porque analiticamente é ruim, porém, temos que ajudar as pessoas a entender que a arte não é totalmente subjetiva, que não dá pra afirmar que o que diferencia a qualidade de “meteoro” de Luan Santana e “Song For Sampa” do Lobão é questão de gosto, e que discutir e estudar sobre isso tudo não é só pra quem é do ramo.
Tudo isso só pra dizer que boa arte é aquilo que ajuda no seu progresso humano, te ensina, te deixa mais crítico e mais consciente ante à vida.
Eu acredito que esse povo que vem com essa história de que não existe arte ruim, na verdade são pessoas que gostam de algo classificado como ruim mas se recusam a assumir isso. Deixem de recalque gente, não é nenhum pecado gostar de coisas ruins, pecado é achar que você é o bonzão que só gosta de coisas de qualidade. A meu ver existe sim arte ótima, boa, nem tão boa, meia boca, ruim e sofrível...as vezes amo arte sofrível e detesto arte ótima - e sei reconhecer que o fato de eu gostar ou não torna esta ruim ou aquela ótima - qual o problema?
ResponderExcluirDizer que não se pode qualificar a arte entre boa e ruim no fim é pretensão demais, normalmente vida de pessoas que têm medo ou vergonha de dizer que gostam de algo ruim. Se libertem, recalque faz mal pra saúde.
Creio que o que disse torna a questão da arte e sua qualidade bastante ultrapassada. Como se fosse uma simples satisfação de critérios que devem ser estabelecidos pelos críticos, aqueles capazes e com autoridade de definir métodos corretos de apreciação de "...luz, cor do ambiente, expressão das personagens, aliado ao som ou à ausência dele...".
ResponderExcluirApesar de você exaltar a originalidade como fato positivo, acho que ela não é de fato possível seguindo esse caminho, já que qualquer ruptura autêntica e de fato surpreendente seria tida por esses padrões institucionalizados como algo inferior. Por isso tantas obras que em um primeiro instante são consideradas estranhas e que somente após um longo período conseguem ser finalmente admitidas, vide vanguardas modernistas e o próprio samba que por diversas sinal (assim como a “boa” literatura) está repleto de clichês.
Apesar de também achar insuficiente a posição de admitir que a arte é algo subjetivo e centrado no indivíduo, ao menos ela apresenta menos contradições e ao invés de tentar definir o que é arte busca saber quando ela existe e em que condições.
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